lundi 25 janvier 2010

ENSINAR A PENSAR

De

Dulce Critelli:




Ensinar a pensar



“De pensar morreu um burro”. “Quem pensa não faz”… Muitos ditos populares expressam um certo sarcasmo e desprezo em relação ao pensar, revelando uma crença, alimentada há séculos, de que o pensar atrapalha, emperra a ação, é coisa de quem não tem nada para fazer.

Quando se trata, então, da filosofia, esse deboche vai ainda mais longe, afirmando que todo pensador não tem pé na realidade e vive numa torre de marfim.

É certo que o tempo da reflexão conflita com a urgência do agir. Mas, nem sempre todo agir é assim urgente e, na maioria da vezes, parar para pensar nos salva de decisões equivocadas e prejudiciais. Pensar a respeito de alguma coisa ou de algum acontecimento, é compreender os seus verdadeiros sentidos e significados.

Um artigo publicado na Folha no dia 1º de outubro deste ano comentava o Saeb, exame federal de avaliação da aprendizagem de alunos do último ano do ensino médio. Mal alfabetizados, esses adolescentes, nas palavras do jornalista, “não conseguem, por exemplo, compreender o efeito de humor provocado por ambigüidade de palavras ou reconhecer diferentes opiniões em um mesmo texto”.

Quem não sabe ler, não sabe distinguir, nem rir de fato, nem pensar. É presa fácil de mistificações e sujeições, obediente a tudo o que causar a impressão mais forte.

O pensar, diz Sócrates, “abre os olhos do espírito”. E isto quer dizer que a reflexão explicita mal-entendidos, desvela segundas intenções, percebe mentiras, desautoriza preconceitos, descobre manipulações… Em decorrência, sentimo-nos capacitados para escolher, dizer não, colocar limites, mudar a ordem das coisas, redefinir destinos, desarticular dominações…

Em outras palavras, o pensar prepara nossa liberdade e nossa autonomia tanto quanto nos faz reconhecer as responsabilidades que nos cabem nas situações vividas.

Liberdade e autonomia, convenhamos, não são comportamentos muito bem-vindos na esfera político-social, porque ameaçam o poder vigente.

E na esfera da vida privada, a responsabilidade é, na maioria das vezes, temida e recusada pelas pessoas, porque cria encargos e compromissos.

Liberdade, autonomia, responsabilidade?… O pensar põe em perigo. E, em grande parte, por isso mesmo, ele é estrategicamente convertido em objeto de escárnio.

Ensinar a pensar. É esse o único projeto que poderia nos tirar do atoleiro de pobreza, de violência, de impotência em que vivemos. É um projeto cuja origem não está em nenhuma economia, nem ideologia ou política oficial. Não precisa de equipamentos especiais, nem depende da criação de uma secretaria do pensamento. É só uma atitude. Ensinar a pensar, aprender a pensar.






SOBRE DULCE CRITELLI





Fonte do texto

Publicado na coluna “Outras Idéias” , Folha Equilíbrio,“Folha de São Paulo”, de 25 de outubro de 2007

1 commentaire:

  1. Aprendemos tratar da pessoa como um todo os metodos de psicanalisa existencial tambem sao Terapias que interssam a gente.

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